NÓS – QUILOMBOLAS DA AMAZÔNIA DESTACA A PRESENÇA NEGRA NA REGIÃO

          O projeto Nos – Quilombolas da Amazônia iniciou suas atividades no município do Acará, nordeste paraense,região que se destaca no mapa de comunidades quilombolas no Estado do Pará. Navegando pelo rio Guajará ou caminhando pelas estradas de terra, a zona rural do município lembra ainda o início de sua formação.  Seu surgimento remonta ao período em que os colonizadores portugueses realizavam a exploração do território paraense em direção ao interior do Estado do Grão Pará e Maranhão, utilizando como via de penetração o próprio curso dos rios. 
          Nesse processo, ali se formaram grandes fazendas com engenhos que utilizavam mão de obra escrava. Um importante aspecto de nossa história que ainda é capaz de causar estranhamento para alguns quando se fala da presença africana na Amazônia, acostumados à imagem de região despovoada no período colonial, com a esparsa presença do branco e do índio. Até mesmo na historiografia amazônica até alguns anos atrás eram poucos os trabalhos desenvolvidos sobre o tema. Destaque para o grande trabalho desenvolvido por Vicente Salles, com “O Negro no Pará sob o Regime da Escravidão” (1971) e “O Negro na Formação da Sociedade Paraense” (2004), onde ele nos chama a atenção: “A vida do escravo nos engenhos do Pará é outro ponto que ainda não foi devidamente estudado. A casa-grande, que no nordeste simbolizava o sistema senhorial, típico da região da lavoura de cana-de-açucar, teve seu correspondente na Amazônia”. 
          Atento a esta situação, o projeto Nós – Quilombolas da Amazônia busca preencher esta lacuna atuando numa dos principais áreas de produção de cana-de-açucar da região no período colonial. Como Vicente Salles destaca: “Desde o início da ocupação européia do Grão-Pará foi a zona fisiográficaGuajarina – que abrange o Guamá, Capim, Acará (...) – o mais importante centro econômico da Amazônia, com base na lavoura de gêneros exportáveis – sobretudo arroz, fumo, cacau e cana-de-açucar. Aí se estabeleceram os maiores engenhos, as maiores fazendas agrícolas. Aí portanto se despejou numerosa escravaria negra”.
          “Capítulo importante na história social do Pará escreveu o negro nos engenhos de cana-de-açucar. Ali ele exercitou a fuga para os quilombos. Tornou-se ladino. Incorporou-se à Cabanagem”, explica Vicente Salles, lembrando a revolta social deflagrada pelo povo oprimido no Império, na então província do Grão-Pará, estendendo-se de janeiro de 1835 a 1840.  
          No município de Acará boa parte das comunidades rurais na região foi formada quando os descendentes dos senhores de engenho passaram a arrendar as terras para os antigos escravos da fazenda, conforme explica José Carlos Galiza, morador da comunidade Guajará, e membro da Coordenação Executiva da Malungu - Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará."Itacoã e Guajará não são comunidades de negros fugidos. Eram fazendas de escravos e a gente, por causa da abolição e da falência dos proprietários, ficou lá, permanecemos lá. Tinha a senzala, a casa grande".
          Nesta mesma região, além da comunidade de Guajará e Itacoã são conhecidas as comunidades quilombolas de IgarapáJacarequara, Espírito Santo, Carananduba, Monte Alegre, São Pedro, Boa Vista, São Miguel, Santa Maria, Paraíso, Itaporama e Tapera.
Comunidades que ainda guardam na memória de alguns moradores um tempo de sofrimento. Neto de escravo, aos 93 anos de idade seu Dourival Siqueira do Nascimento, lúcido e com uma vitalidade incomum, ainda lembra das conversas que tinha com o avô quando ele contava histórias de quando era escravo. História de uma casa grande, com 16 quartos, duas cozinhas e um “sumidô” onde os escravos eram castigados. Seu Dorival lembra também das bandas de música que tocavam nas festas da comunidade, onde só quem era branco é que podia dançar. Lembra das cantigas de quando era criança. Do Boi Pai do Campo, e dos cordões de pássaro, Tem Tem e Tucano, manifestações que já desapareceram do calendário cultural da comunidade com o passar dos anos e a pressão da urbanidade.

QUILOMBOLAS DO ACARÁ RESGATAM CULTURA ATRAVÉS DA MÚSICA E DO AUDIOVISUAL

          É final de tarde na comunidade quilombola de Guajará Miri, no Baixo Acará, nordeste paraense. No trapiche à beira do rio Guajará, D. Faustina Galiza, cercada por jovens, começa a cantar antigas toadas do hoje extinto Boi Pai do Campo, que há décadas atrás animava a comunidade de Guajará Miri. O acompanhamento é feito em curimbós e maracás nas mãos dos alunos da Oficina de Música e tudo é registrado em fotos e vídeos pelos integrantes da Oficina de Audiovisual, uma iniciativa que utiliza a música e o audiovisual para o resgate de manifestações culturais que estavam sendo esquecidas. 
O trabalho é fruto das atividades desenvolvidas pelo projeto Nós – Quilombolas da Amazônia e está sendo realizado durante toda esta semana para crianças e jovens das comunidades de Guajará Miri e Itacoã.
          Premiado no III Idéias Criativas Alusivo Ao Dia Nacional da Consciência Negra, da Fundação Cultural Palmares, o projeto Nós – Quilombolas da Amazônia é voltado para jovens e adultos e tem como objetivo principal fortalecer a cultura afrobrasileira e suas manifestações como fator de resistência da cultura negra amazônica, e utilizá-la como elemento catalisador para novas ações e projetos junto às comunidades quilombolas da região.
          Todo o projeto é realizado em parceria com a Malungu - Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará. Na etapa Acará, as ações são financiadas pela Fundação Cultural Palmares e contam com o apoio cultural da Incubadora Pará Criativo. 
          Além das oficinas de vídeo, música e cultura digital, o projeto realizará também uma oficina para elaboração de projetos culturais para capacitar a comunidade a gerir, produzir e apresentar seus próprios projetos, um investimento no protagonismo social das comunidades tradicionais. Esta segunda etapa será realizada no mês que vem, durante a Semana da Consciência Negra, junto aos representantes das comunidades participantes, na região do Acará.



Parceiros

Malungu - Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará
malungupara.wordpress.com

A Malungu é a organização das comunidades quilombolas do estado no Pará. Surgiu como um dos desdobramentos da luta de mulheres e homens quilombolas que desde o final da década de 1980 exigem a garantia de seus direitos territoriais reconhecidos na Constituição Federal Brasileira de 1988. Em março de 2004, a Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – MALUNGU – foi oficialmente fundada enquanto instituição sem fins lucrativos e econômicos que representa as comunidades quilombolas do estado do Pará.


Instituto Federal do Pará – Campus Bragança
braganca.ifpa.edu.br

O projeto Nós – Quilombolas da Amazônia chega à Região do Salgado em parceria com o Instituto Federal do Pará, através do..

Conceito do Logotipo

O logotipo foi construído através da fusão de dois fortes símbolos que juntos sintetizam os conceitos de Floresta e Força Africana.

Árvore - Símbolo universal, que remete à floresta e a vida.

Adinkrahene - Símbolo Africano que remete a liderança, o carisma e a grandiosidade.



Apresentação

          Premiado no III Idéias Criativas Alusivo Ao Dia Nacional da Consciência Negra, da Fundação Cultural Palmares, o projeto Nós – Quilombolas da Amazônia amplia suas ações para além da região do Acará, no Nordeste Paraense, estendendo a oferta de oficinas para jovens quilombolas nas regiões Bragantina e Marajoara. Em cada região, vamos promover oficinas de Audiovisual, Cultura Digital e de Música e Literatura, além de eventos de culminância para a exibição de vídeos e apresentações culturais resultantes do aprendizado.
          Na região do Acará, durante a Semana da Consciência Negra, o projeto também investe no protagonismo das comunidades tradicionais na região amazônica e promove a oficina “Elaboração de Projetos Culturais” para capacitar grupos quilombolas a produzir e gerir seus próprios projetos.
          Nós – Quilombolas da Amazônia é realizado em parceria com a Malungu (Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará). Foi a única iniciativa paraense a ser premiada no concurso nacional e destaca-se por valorizar a identidade afrobrasileira na Amazônia e por investir no protagonismo da juventude quilombola no mundo contemporâneo através das novas tecnologias de comunicação e informação.
          Todas as produções resultantes das oficinas serão compartilhadas na internet, através das redes sociais e pelo nosso blog. Os vídeos também serão apresentados no circuito de festivais de audiovisual no país, ampliando as fronteiras de expressão da diversidade cultural brasileira com um panorama único sobre nossa região, fruto de novos olhares sobre a sua história e cultura - expressões da diáspora africana na Amazônia.